Numeroso público no Paraninfo da Universidade de Santiago de Compostela (Faculdade de Geografia e História) para assistir à conferência de ADRIANA CALCANHOTTO, “Canção de amor canta eu vim”, organizada polo Grupo Galabra-USC em 26 de abril de 2018.
O ato foi apresentado polo coordenador da Rede Galabra, professor Elias J. Torres Feijó e pola professora Carmen Villarino Pardo, que introduziu a cantora com o texto que figura na continuação (fotografias de Felisa R. Prado):
Boa tarde a todas e a todos,
Temos o prazer de ter hoje com nós a cantora e compositora brasileira Adriana Calcanhotto. Muito benvinda, Adriana!
Organiza este evento o Grupo Galabra desta Universidade, com colaboração da Vice-Reitoria de Estudantes, Cultura e Responsabilidade Social da Universidade de Santiago de Compostela e o apoio de Nordesia Producións, aproveitando a
vinda de Adriana para o concerto que terá lugar no dia 27 de abril de 2018, organizado pelo Concelho de Santiago
Adriana Calcanhotto é gaúcha de Porto Alegre e mora desde há anos no Rio de Janeiro. Creio que as pessoas aqui presentes já conhecem um pouco de Adriana Calcanhotto através de algumas das suas canções mais emblemáticas: Esquadros, Cariocas, Uns Versos, Vambora, Senhas, Tua ou pelos seus trabalhos com o pseudônimo Partimpim ou pelo ‘quase-himno’ “Vamos comer Caetano”.
Autora com mais de dez discos na sua trajetória e vários prêmios a nível nacional e internacional (incluídos dois Grammy Latinos) e numerosos concertos é também conhecida por ter uma estreita relação com as artes plásticas e a poesia, sobretudo a partir do seu segundo disco (1992): musicou versos do poeta português Mário de Sá-Carneiro e do brasileiro Ferreira Gullar; assinou colaborações com os poetas brasileiros Wally Salomão, Augusto de Campos ou Antônio Cícero; teve as suas letras reunidas pelo poeta Eucanãa Ferraz no livro Para que é que serve uma canção como essa? e organizou também coletâneas de poesia como Haicai do Brasil, Antologia ilustrada da poesia brasileira ou, no ano passado, a Antologia incompleta da poesia contemporânea brasileira. É agora como nunca.
De modo que, como dizia uma crítica sobre este último livro, Adriana Calcanhotto consolidou a sua carreira musical, “com os dois pés fincados na poesía”.
Ela própria, na coluna “Auto-Retrato” publicada no Jornal do Brasil em setembro de 1996, declarava ‘o seu amor’ pelos escritores brasileiros Augusto de Campos e Oswald de Andrade e pelo artista Hélio Oiticica, e comentava: “Quero fazer canções bem simples. Quero saber para que serve uma canção. […].”, além de afirmar também “Eu gosto de fazer shows”.
Adriana vai falar hoje sobre “Canção de amor cantar eu vim”, um assunto que conhece bem não apenas pela sua prática como compositora e cantora de textos próprios ou de outros, como também pelo seu trabalho como docente convidada na Universidade de Coimbra (este trimestre, com um curso sobre como escrever canções), depois de ser nomeada a sua Embaixadora para o Brasil em 2015.
Se o mar é uma das constantes nas suas letras, as referências a versos ou poema/poesia são outra. A eles se refere em canções como Uns versos, Canção por acaso, Canção sem seu nome, Cantada (depois de ter você), Ultramar, ou no disco A fábrica do poema (1994).
Também é habitual ouvi-la falar em diferentes entrevistas e depoimentos (como as concedidas a meios galegos nestes dias) sobre as relações entre artes plásticas, música e poesia. Para ela os poemas são canções e ambos deveriam ter um estatuto semelhante; e afirma que ‘pensa em ritmo, melodia e poesia’ e que não acredita muito nas fronteiras entre linguagens artísticas.
Uma mistura de códigos que também está presente na concepção do concerto que vai dar amanhã aqui em Santiago, A mulher do pau-brasil, com ecos dos textos dos primeiros cronistas sobre o Brasil, das vanguardas da década de 1920 e da Tropicália de Hélio Oiticia e dos tropicalistas.
Esse trabalho de Adriana lembra a antropofagia do autor modernista Oswald de Andrade e o seu Manifesto Pau-Brasil de (1924), que dizia, de modo irónico:
“A Poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e descobrem. […] Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres.[…] Apenas brasileiros de nossa época”.
E com esta brasileira da nossa época para quem “qualquer cantautor hoje em dia, é um trovador” deixo-os para que nos explique esta história da “Canção de amor cantar eu vim”.
Obrigada, Adriana!