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Cristina Martínez Tejero: «Os meus trabalhos estám publicados em norma AGAL por ser aquela em que mais me reconheço»

A investigadora Cristina Martínez Tejero defendeu hai uns meses na Faculdade de Filologia da USC a sua tese de doutoramento intitulada Discursos sobre Galaxia. Conhecimento construído e novas perspetivas de análise em Ciências Humanas para sistemas em processo de emergência. Foi avaliada com “Sobressaliente Cum Laude”, o que significa o reconhecimento unânime da excelência do trabalho apresentado.

A tese enquadra-se dentro do projeto Fisempoga do Grupo Galabra e foi orientada polo diretor deste grupo de investigaçom, Elias J. Torres Feijó. O tribunal responsável de a julgar estava composto por Antón Figueroa (USC), João Pedro George (Universidade Nova de Lisboa), Helena Miguélez Carballeira (Bangor University) e os integrantes de Galabra Felisa R. Prado (que supriu a ausência por doença de Mercè Picornell, da Universitat de les Illes Balears) e Roberto Samartim (da Universidade da Corunha).

Do PGL quigemos entrevistar a autora porque o seu trabalho vai permitir entender melhor o funcionamento da cultura na Galiza do Franquismo e da atualidade. O foco da estudo é a trajetória de Galaxia no franquismo, a divulgaçom das suas ideias, os modos de adaptaçom e as estratégias polas quais mantém e reforça a sua posiçom, o que explica a situaçom ocupada polos seus agentes na atualidade. Foi redigida e apresentada em norma AGAL.

Cristina, poderias indicar-nos, em linhas gerais, em que consiste o trabalho realizado para a tese de doutoramento?

A tese articula-se em três níveis complementares e interligados. Dumha parte, pretende-se crescer no conhecimento sobre o grupo Galaxia e o funcionamento do sistema cultural galego contemporâneo em geral. Em segundo lugar, hai umha vontade de aprofundar nos modos em que foi construído o conhecimento sobre este grupo dentro do campo dos estudos galegos, isto é, quais fôrom as dinámicas, as vozes implicadas, o grau de reproduçom, etc., que derivárom no que hoje sabemos (ou nom sabemos) sobre Galaxia. Por último, a tese pretende debater e ensaiar fórmulas e vias de estudo aplicáveis a sistemas que, como o galego, se encontram em processo de emergência.

A tua tese foca a trajetória e as estratégias de consagraçom do grupo Galaxia. Que te motivou a fazer esta escolha?

A seleçom de Galaxia surge de sucessivas reconfiguraçons no objeto da tese ante a necessidade de ser coerente com a metodologia sociológico-sistémica aplicada. Assim, houve umha primeira delimitaçom temporal localizada no período do tardo-franquismo, para passar depois a centrar-se no que é considerado o núcleo do sistema cultural da altura, o grupo Galaxia. Em muitas ocasions, os estudos literários tenhem preferência por aqueles elementos mais marginais (nalgum momento da sua trajetória) do sistema e isto ocasiona que, muitas vezes, nom saibamos explicar como funciona o centro, as posiçons mais hegemónicas.

No desenvolvimento da pesquisa sobre Galaxia revelou-se como fundamental o conhecimento existente (como e porquê sabemos o que sabemos) sobre este grupo e obrigou a concentrar esforços numha análise profunda deste aspeto. Daqui surge umha ideia fundamental, partilhada por Galabra: só é possível avançar no conhecimento sobre um objeto umha vez feita umha análise profunda tanto do estado da arte como do processo de configuraçom desse saber, porque isto permitirá elaborar perguntas muito mais certeiras que guiem a focagem.

Quais som as principais conclusons que se derivam do teu trabalho?

Além das reflexons de perfil mais metodológico, o núcleo das conclusons concentra-se no grupo Galaxia e no campo dos estudos galegos. Nom som conclusons cómodas nem complacentes mas todas elas som resultado dumha análise profunda. Em relaçom à produçom de conhecimento sobre Galaxia destaco o seu caráter viciado e insuficiente, tanto polo protagonismo direto deste grupo nesta tarefa como na tendência à construçom de discursos de perfil sentimental (em orientaçom positiva ou negativa) e sem base analítica. Considero que este protagonismo na construçom do próprio saber tem umha funçom clara como parte da estratégia de conquista e manutençom da centralidade do sistema cultural galego operada por Galaxia.

Por outra parte e no relativo ao campo dos estudos galegos, na tese analiso algumhas questons que permitem discutir a autonomia do campo na medida em que, por vezes, primam lógicas alheias à conquista do capital científico. Em última instância, este trabalho defende a necessidade dum campo de estudos galegos autónomo que responda de forma plena a critérios científicos.

Na atualidade, pode-se falar da existência dum “grupo Galaxia”. Quem o integra? que instituiçons ocupam? notas umas (des)continuidade entre as suas estratégias e relaçons atuais e as existentes no (pós-)franquismo?

Considero que existe umha continuidade nos seus modos de atuaçom. Mais do que os nomes, parece-me interessante destacar as lógicas que regem as tomadas de posiçom de Galaxia e que, na minha opiniom, se baseiam em duas tendências. Dumha parte, apresentar umha estrutura institucional forte (a editorial e as distintas fundaçons associadas) e ter presença naqueles organismos centrais do sistema cultural (USC, RAG, CCG, etc.). Indo além da polémica da RAG no ano passado, creio que o Consello da Cultura Galega pode ser considerado o emblema desta forma de intervençom (velada) no sistema. Desde a sua criaçom e com a exceçom do período correspondente a Filgueira Valverde (1990-1996), o resto de nomes que ocupárom a presidência do CCG estám associados a Galaxia (Ramón Piñeiro, Carlos Casares, Alfonso Zulueta de Haz e Ramón Villares).

A outra tendência que me parece relevante é a sua estratégia de evitamento do conflito explícito e a sua localizaçom em espaços chave à hora de negociar, ao que se soma o seu uso efetivo da «retórica do consenso». Estou a pensar nas declaraçons de Henrique Monteagudo sobre o bilinguismo em ocasiom da sua entrada como integrante da RAG mas também na aposta polo partido político galeguista e social-democrata, Compromiso por Galicia, ao qual se associam vários dos agentes mais reconhecíveis de Galaxia.

A tese foi apresentada na Faculdade de Filologia da USC na norma da AGAL. Qual a razom da tua escolha? Há antecedentes neste sentido?

Historicamente creio que umha das vias mais exploradas polo movimento reintegracionista foi a legitimaçom por via científica. De forma mais individual ou mais coletiva, continua a haver nas universidades galegas espaços de resistência à normativa vigente, ainda que nom tam abundantes como no passado. As estatísticas também nom som mui otimistas sobre o uso do galego na investigaçom, fora das faculdades de filologia.

No meu caso, os meus trabalhos estám publicados em norma AGAL por ser aquela em que mais me reconheço. Apesar do espaço académico dar mais facilidades para a liberdade de norma é importante assinalar que nem sempre é assim e, às vezes, esta escolha ocasiona problemas à hora de publicar.

Publicado originalmente no Portal Galego da Língua.

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